terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Entrevista com Matthew Vollmer.

 Entrevista com Matthew Vollmer
Por: Thays Biasetti
Uma conversa franca com o inglês que mudou para o Brasil por amor

Um dos professores de Ashtanga Yoga mais conceituados no Brasil, Matthew Vollmer, começou sua prática tardiamente e demorou a descobrir que seu destino era o Yoga. O eYoga bateu um papo com o inglês, dono de um carisma incrível, que nos contou como foi a aprovação de Patabi Jois, o por quê da mudança para o Brasil e o que é o Ashtanga.



YJ– Como foi seu primeiro contato com o Ashtanga?
Matthew Vollmer – Quando estava com 26 anos, fui a um festival de música no interior da Inglaterra com meus amigos. Num certo momento, perdi-me do grupo e resolvi dar uma olhada na parte alternativa que tinha no festival. Era um local onde estavam sendo realizadas várias coisas relacionadas à saúde e à beleza, como massagens e aulas. Então, vi um homem que estava praticando Ashtanga e fiquei encantado com os movimentos dele, com a elegância e a concentração com que fazia aquilo. Resolvi fazer a aula e adorei. Naquela época (começo da década de 1990) não sabia o que era, porque o Yoga não era muito difundido na Inglaterra. Depois de alguns anos, descobri que o que ele fazia era o Surya Namaskar.

YJ– E o começo? Foi difícil? 
MV – Perguntei para esse professor como poderia praticar e ele me deu o nome de três pessoas. Duas delas não podiam dar aulas ou não estavam mais com muitos alunos. O último professor que liguei disse para mim que não tinha mais vagas nas aulas dele, mas eu não desisti e continuei ligando até que ele disse que poderia ir um dia para ver. Quando cheguei lá, a classe estava lotada, mas havia um lugar vazio e tomei esse lugar. Ele nem deu aula para mim, apenas me ensinou o Surya Namaskar A e B e mandou-me embora praticar em casa. Fiz as seqüências durante a semana toda e voltei, a contragosto dele, para a aula. Novamente havia um lugar sobrando, o que fez com que ele me aceitasse como aluno. 

YJ– Você se apaixonou pelo Yoga logo de cara? Largou seu emprego para ser professor? 
MV – A paixão foi instantânea, mas meu comprometimento com o Yoga demorou um pouco. Cresci a cada ano, a cada prática. Fiquei cinco anos apenas praticando como aluno e continuava exercendo minha profissão de engenheiro civil. Nessa época, estava infeliz com meu trabalho, achando que não era o que queria fazer da minha vida e tentando achar meu caminho. A semente do Yoga havia crescido em mim, e, então, decidi mergulhar de cabeça no Ashtanga e tornei-me professor. Foi a melhor decisão que tomei na vida.

YJ– Como conseguiu a certificação do Patabi Jois? 
MV – É uma história engraçada. Fui três anos seguidos, durante três meses, à Índia para conseguir a certificação. Na segunda vez que fazia o curso, fui conversar com ele, que me disse que assinaria a certificação, contanto que eu fizesse uma carta. Fui a uma lan house, mas não consegui imprimir, o que me fez voltar somente no dia seguinte para que ele assinasse. Quando cheguei lá, a mulher dele, que não estava no dia anterior, perguntou quantas vezes eu já tinha feito o curso e eu disse que era a segunda vez. Daí, ela me disse que teriam que ser três vezes. Respondi que o Patabi Jois tinha dito que assinaria e observando ele, mas ele ficou olhando para outros lugares para não ter que me encarar e responder. Então, voltei no ano seguinte e pedi que assinasse. Ela me perguntou novamente quantas vezes eu tinha ido. Eu disse: “Três. Você me disse que precisavam ser três”. Então, ele assinou. Mas o curioso é que eu pedi que ele assinasse a certificação da minha mulher Carla e ele assinou na boa, sem nem perguntar quantas vezes ela tinha feito o curso. Foi muito engraçado isso tudo. 

YJ– Falando da sua mulher, ela foi o motivo de você ter mudado para o Brasil? 
MV – Sim, foi. Mudei-me para o Brasil há cincos anos porque ela queria voltar a morar aqui. Isso é coisa de brasileiro: querer sempre voltar. Então, não podia ficar na Inglaterra, não é? É muito mais fácil eu ficar longe do meu país do que ela ficar longe daqui. 

YJ– Como você compara a prática dos brasileiros com a dos ingleses? 
MV – Os brasileiros, principalmente no Rio de Janeiro, são bem malhados, com músculos bem proeminentes, porque eles se preocupam bastante com o corpo. Mas esse excesso de malhação dificulta um pouco a flexibilidade, o que torna difícil fazer algumas posturas. Os ingleses não são nem um pouco preocupados com o corpo e não tem músculos nenhum. Fica mais fácil, para eles, dobrarem-se na prática do Ashtanga. É muito difícil você manter força e flexibilidade ao mesmo tempo.

YJ–Você faz as três séries do Ashtanga? Como foi sua evolução? 
MV – Faz 15 anos que pratico Ashtanga e, por isso, consigo fazer as três séries inteiras. A evolução foi bastante difícil, mas fiz tudo bem devagar, dentro dos meus limites, para não me machucar. Isso é o mais importante: não ultrapassar os limites do corpo para não correr o risco de ter uma lesão, ficar parado por um tempo e, conseqüentemente, regredir na prática.

YJ– Você disse que para evoluir é necessário praticar todos os dias. Mas é preciso fazer a série toda? 
MV – Se a pessoa tiver tempo, e conseguir, pode fazer todos os asanas, mas não é necessário. Se a pessoa fizer apenas o Surya Namaskar, ou 15 minutos por dia de prática, já consegue evoluir bastante. À medida que vai melhorando no Surya, acrescente asanas. Para evoluir, é melhor fazer 15 minutos todos os dias do que a prática toda apenas uma vez por semana.

YJ– O Ashtanga tem uma certa fama de lesionar os praticantes e isso acaba gerando medo em algumas pessoas. Por que você acha que isso acontece? 
MV – Porque existem muitas escolas que não respeitam os limites dos alunos e já passam uma série inteira na primeira aula. Nós temos que nos respeitar, acima de tudo. Comece devagar e, quando estiver fazendo a seqüência inicial muito bem, com facilidade, avance um pouco mais. Se você não ultrapassar seus limites, não exigir do corpo mais do que ele pode dar, dificilmente vai se lesionar. 

YJ– Você acredita que o Ashtanga é uma prática para qualquer um? 
MV – Algumas limitações físicas dificultam a prática, mas não a tornam impossível. Se a pessoa desejar muito, ela consegue fazer Ashtanga, mesmo que não tenha um braço, por exemplo.

YJ– Qual seu sonho, dentro do Yoga, para os próximos anos? 
MV: Quero fazer uma peregrinação no Monte Kailash, no Himalai, para aprender mais e entrar em contato profundo comigo mesmo.

YJ– O que você acha importante no Ashtanga? 
MV– O Ashtanga para mim são os bandhas e os pranayamas que fazem você entrar em contato com o seu interior. O alinhamento também é importante, mas deve ser seguido apenas para não machucar e não é necessário, pelo menos no Ashtanga, que se faça os asanas com um alinhamento perfeito.

YJ– Qual foi o maior ganho com o Yoga? 
MV – O que mais mudou em mim foi o contato com o meu coração, que consigo por meio do Yoga. Sou uma pessoa racional, mental, e preciso desse contato com o emocional para me manter calmo. 

Matthew Vollmer estará em Curitiba nos dias, 23,24, 25 de março de 2012. Mais informações acesse cursos neste mesmo blogg.

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