segunda-feira, 4 de abril de 2011

Meditação

Meditação



A meditação é uma atividade puramente mental. Mas, se definirmos meditação simplesmente como ‘atividade mental’ então nós estamos sempre em meditação, porque nossa mente está ativa o tempo todo.
Temos que melhorar essa definição. Meditação é uma atividade puramente mental que tem como foco um único objeto. A atividade mental na meditação move-se em direção a apenas um único tema ou objeto.
A atividade mental ordinária, isto é, não meditativa, move-se caoticamente, indo de um objeto a outro por meio de associações livres. É a chamada ‘mente de macaco’, porque, assim como um macaco pula de galho em galho, percorrendo uma grande distância, a mente de macaco vai de pensamente em pensamento, sem conhecer qualquer limite!
Por exemplo, ouço o latido de um cachorro. Os meus cachorros estão em casa. Será que eles estão bem? Se alguma coisa acontecer com eles minha mulher me mata! Como será que ela está lá na Índia? Será que ela está comendo direito? Os chapatis (pão indiano) lá do Ashram são maravilhosos, quem me dera comer um agora...
Nossa mente vai de um latido de cachorro para chapatis, rapidamente e sem nenhuma dificuldade.  Não há nada de errado nisso, é a natureza da mente e é bom que ela tenha tamanha capacidade.
No entanto, não tendo realmente um comando sobre esse tipo de atividade, ficamos perdidos em meio a um turbilhão que funciona seguindo suas próprias regras. No fim do dia sentimos que estamos esgotados, não porque tenhamos trabalhado muito, mas porque fomos ininterruptamente reféns desse tipo de atividade, na qual ora estou bem – quando os pensamentos são agradáveis –  ora estou mal – quando os pensamentos são desagradáveis.
Na meditação, em princípio, restringimos a atividade mental a um dado escopo. Por exemplo, escolhemos cantar mentalmente um mesmo mantra. Devo estar atento o suficiente para que eu reconheça sempre que a mente fugir em outros pensamentos, e trazê-la de volta ao mantra escolhido.
Ganhamos uma grande coisa com este tipo de disciplina. Primeiro, descobrimos o quão poderosa a mente é, o quanto ela tem a capacidade de nos ‘levar para passear’, sem que sequer nós nos apercebamos disso. Percebemos também certos tipos de conteúdo que estão sempre presentes, como que chamando nossa atenção, e então podemos deliberadamente lidar com eles na nossa vida com mais consciência.
Mas, o mais importante, descobrimos um maior ‘comando’ sobre a mente. Na disciplina de trazer a mente de volta ao objeto de meditação, começamos a ganhar uma certa capacidade de guiar o fluxo mental.Vemos que os conteúdos mentais são apenas isso – pensamentos – e que nós mesmos podemos temporariamente abrir mão deles em favor de um outro direcionamento que estamos tentando cultivar agora.
A meditação é isso: o cultivo consciente de um relacionamento com um só assunto ou objeto, sem que os outros ‘assuntos’ da mente atrapalhem.
Portanto, podemos definir a meditação como uma atividade puramente mental, na qual o fluxo de pensamentos está direcionado a um só tema ou objeto. Entretanto, ainda não definimos muito bem a meditação. Porque, qual a natureza deste ‘objeto’ da meditação? Seria qualquer um?
Suponha um assassino psicopata, que com toda calma está pensando em como assassinar sua vítima, qual o melhor método para matá-la, como livrar-se do corpo, etc. Não duvidemos em nada da sua capacidade de concentração, com a qual ele vividamente visualiza sua vítima sendo estrangulada. Diríamos que ele está em meditação, que ele é um yogi, que irá se libertar do sofrimento? Afinal, o que ele está fazendo se encaixa na nossa definição: um fluxo de pensamentos em direção a um só tema ou objeto.
É claro que não consideramos este tipo de atividade como dhyana, meditação.  Porque o objeto de meditação deve ter a característica especial de não alimentar nosso ego iludido, nossos desejos, nossas aversões, mas, pelo contrário, deve nos ajudar a ganhar uma compreensão maior e mais feliz de nós mesmos.
O assassino do nosso exemplo anterior estava sendo guiado por suas próprias confusões, e por isso sua atividade não é ‘meditativa’.
Portanto, para definirmos o que é meditação devemos incluir isto que é maior que nós mesmos, frente ao qual nossa individualidade ganha uma perspectiva correta. Este objeto de meditação por excelência é chamado ‘saguna brahma’ ou ‘Ishvara’, significando o Todo, a inteligência que permeia todas as coisas, que é a causa de tudo e que sustenta tudo. Assim, nossa definição final de meditação é: ‘Atividade mental unidirecionada que tem por objeto saguna brahma’.
Quando consideramos o Todo, vemos que estamos incluídos nele, totalmente, com todas as qualidades positivas e negativas que podemos ter. Este Todo está na forma de ordem, eu mesmo estando, neste exato momento, perfeitamente encaixado na ordem do Todo. Ainda que eu tenha vários tipos de problema, no momento da meditação é possível estar confortável consigo mesmo, entendendo a figura maior da qual todos fazemos parte.
Estar confortável consigo mesmo, sem a exigência interna de ser diferente, é a meta última de qualquer meditação.

Luciano Giorgio é um dos fundadores da escola Moksha em Curitiba. Encontrou o seu caminho no Yoga a 10 anos e dedica-se ao estudos de Hatha Yoga e de Vedanta. Esteve na Índia por quatro meses estudando no Ashram de Swami Dayananda. Atualmente estuda Vedanta sob a orientação da professora Glória Arieira. Mais informações:WWW.yogamoksha.com.br

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